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Blog do Casal

Tempo de Evoluir: Aprenda a Dizer Não

Introdução

O tempo é implacável! Este texto reflete sobre a minha jornada de vida, destacando os desafios que enfrentei ao tentar ser aceita a qualquer custo.

Desde a infância, onde apelidos dolorosos influenciaram meus mecanismos de defesa, até a fase adulta, onde a busca por aprovação se tornou uma prisão emocional, o texto explora como sacrificar minha identidade impactou negativamente minha vida.

Ao compartilhar essa jornada, meu objetivo é inspirar você a reconhecer a importância de preservar sua identidade, aprendendo a dizer “não” quando necessário. Este “vômito” é um convite para a reflexão sobre experiências pessoais e a busca por uma evolução autêntica e significativa.

Infância Marcada por Diferenças

Dizer não é tão libertador quanto dizer “FODA-SE!”

No meu tempo de criança, eu não era bonita. Eu era gordinha e estranha. O rosto não tinha nenhuma beleza; eu era bem desengonçada e qualquer foto minha da infância pode comprovar o que estou te dizendo.

Entretanto, os apelidos dolorosos criaram mecanismos de defesa. Para não sofrer tanto bullying e não me sentir tão isolada, desenvolvi em mim uma habilidade incrível. Você deve estar se perguntando: “Nossa, que habilidade é essa?” Acredite, é a habilidade de ser legal.

Eu até podia estar fora dos padrões de beleza, mas precisava ter algum diferencial para sofrer menos na minha escola. Existiam muitas garotas maravilhosas e deslumbrantes. Uma delas era a Fernanda. Fernanda era incrível: loira, magra, nariz desenhado, cabelos com a raiz lisa, cachos nas pontas, cabelo batendo no meio das costas.

O cabelo tinha um tom de loiro dourado, olhos esverdeados, cílios grandes, boca carnuda, bochecha desenhada e corpo escultural. Para ajudar, ela tinha as roupas mais incríveis que eu já tinha visto, tênis de marca, e as calças jeans nela ficavam perfeitas.

Ela usava tudo combinado, enquanto as minhas roupas eram do brechó ou eu pegava da minha irmã mais velha quando não serviam mais para ela. Meu Deus, como competir?

Beleza ou Simpatia? A Escolha que Transformou Minha Vida

Mas tinha um detalhe com a Fernanda: ela era linda, tudo isso que eu falei para vocês, mas ela era chata. Sim, cara fechada, poucos amigos. As pessoas pediam algo para ela, dizia não.

Ninguém gostava dela, e eu gostava que ninguém gostava dela porque vi uma grande oportunidade dessas pessoas, de alguma forma, gostarem de mim. Eu pensei: “A beleza da Fernanda eu não tenho, mas eu posso não ser chata como ela.”

Vou lembrar, só para você não esquecer desses detalhes: eu era baixinha, desengonçada, com as costas tortas, nariz batata, cheio de espinhas na cara, dente torto, uma sobrancelha falhada e grossa, o cabelo comprido e cheio de piolhos. Ninguém acreditava que ia dar certo, e na real, nem eu acreditava rsrs.

A Habilidade de Ser Legal como Mecanismo de Defesa

Mas eu desenvolvi uma habilidade incrível. E você deve estar se perguntando qual habilidade é essa. Acredite, habilidade de amenizar tudo isso. Eu criei um mecanismo de defesa. Olha que inteligente, achava eu, que para ninguém reparar na minha feiúra, era só eu ser extremamente legal. Então, ficou nisso.

Naquele tempo, eu aprendi a jogar futebol para jogar com os meninos. Aprendi a assobiar na arquibancada do jogo. Aprendi a contar piadas. Comecei a fazer aula de canto. Fiz aulas de instrumentos musicais: violão, piano, órgão.

Tudo para as pessoas não olharem para mim, mas para o que eu poderia oferecer para elas. Ser uma companhia agradável, fazê-las sorrirem, buscar o que elas pedissem, ser útil. Não é que deu certo!

A Competição com os Padrões de Beleza

A Fernanda passava pelos corredores da escola, naquele tempo, todo mundo parava para olhar para ela porque realmente ela era linda para caramba. Mas sem graça, estava sempre de cara amarrada, parecendo brava com tudo.

Se as pessoas pediam algo para ela, dizia não, só fazia o que ela queria, o que ela gostava. Não se misturava com ninguém.

Mas eu? AHHH! Eu era legal. Sempre estava gargalhando alto, rindo com a galera. Pesquisava piadas, contos, trava-línguas, qualquer coisa que pudesse me deixar interagir com as pessoas.

A Arte de Ser Legal para Ser Aceita

Eu percebi que, quando juntava uma rodinha de amigos da escola, eles já não chamavam mais a Fernanda para ficar com eles.

Mas falavam: “Cadê a Cilleid para cantar uma música ou pedir para ela contar aquela piada? Aquela gordinha engraçada…” E eu, que antes me sentia tão rejeitada, comecei a me sentir mais querida e aceita.

Afinal, eu tinha criado um plano genial. Eu desenvolvi a habilidade de ser legal. Muito, mas muito legal. Mas legal foi legal só por um tempo. Depois, ser legal começou a ficar tão chato.

A Jornada de Transformação: Do Desengonço à Aceitação

O tempo foi passando, eu fui crescendo, emagrecendo, tomando forma, fiquei alta, os dentes se ajeitaram, as espinhas foram embora, o piolho acabou, o rosto se ajeitou, a coluna ficou ereta, e não é que eu dava até um caldo rsrs. Apareceu até um milagre para quem me conheceu na infância.

Brincadeira à parte, aquela criança ingênua que queria aceitação de todo mundo ainda morava muito dentro de mim. E mesmo adulta, com meu carro próprio, minhas economias, construindo minha vida, tendo filhos, eu me vi várias vezes sendo legal em situações inacreditáveis.

Situações que eu não deveria nem ter aceitado, sendo legal com pessoas que nem mereciam a minha atenção, só para ter aceitação. E para aquela pequena e frágil Cilleid lá da infância, num corpo de um baita mulherão, se sentir acolhida, amada e aceita.

A Desilusão de Ser Sempre “Legal”

Mesmo passando por situações inacreditáveis surreais, tempo difícil, eu continuava sendo muito legal, dizendo sim para tudo e todos, mesmo que eu não conseguisse, que eu não pudesse, eu arrumava um jeitinho. Mas descobri, às duras penas, que nem sempre é legal ser legal.

E parece que eu comecei a entender a Fernanda da escola lá no tempo da infância, aqueles “nãos” que ela dizia, mais isolada na dela, protegia ela daquele monte de vampiros sanguessugas tóxicos que eu abracei todos para mim.

E abracei para mim, não só na infância, mas pela vida inteira. Parecia que eu tinha um luminoso na testa dizendo: “Se você é tóxico, aproveitador ou aproveitadora e quer sugar a energia de alguém, eu estou aqui.”

Não é legal ser legal com quem te magoou, com alguém que só quer se aproveitar de você, que tem uma relação tóxica com você, com alguém que suga todas as suas energias, te coloca para baixo, que te inveja, que te trai, que fala de você pelas costas.

E eu nunca entendi por que eu continuava legal com essas pessoas. Era como um vício na cocaína, eu não conseguia dizer não, eu estava viciada em dizer sim, eu era viciada em ser legal.

Presas na Roda das Expectativas: O Desafio de Dizer Não Diante das Decepções

Eu poderia dizer que foi após uma grande decepção que eu comecei a perceber que tinha me tornado refém dos desejos e vontades dos outros, e eu já não sabia quais eram as minhas vontades.

Mas se eu dissesse que foi depois de uma decepção, eu estaria mentindo, porque foram dezenas, centenas de decepções, para finalmente eu ver.

Já dizia meu velho pai: “A gente aprende no amor ou na dor.” Foi muito difícil sair desse loop extremamente vicioso. Às vezes, você pensa: “Como eu digo não para fulana? Ela já fez tanto por mim…

Mas o que os outros vão pensar? Ah, não custa nada. Qual o problema de ajudar a fazer ou ir nesse lugar mesmo que eu não queira? Tempo? Vou fazer isso rapidinho, não vai me atrapalhar em nada. Coitada dessa pessoa, ela precisa tanto de mim.” E mais 1 milhão de desculpas que eu dava para mim mesma.

E quando menos eu esperava, eu estava comendo o que não gostava, fazendo o que nem curtia, indo onde não queria, só para não desagradar alguém que nem ligava para mim, com meu terrível, cruel, insensível e avassalador NÃO. Inimaginável, isso jamais… não dava para dizer não.

A Sombra do “Sim”: O Preço da Autoanulação e a Busca pela Aceitação

Eu estava o tempo todo traindo a mim mesma, para não desagradar nada e nem ninguém. E isso era muito doloroso, cansativo e desgastante. Quantas vezes não me desdobrava em mil para dar conta de tantos “sins” para tanta coisa que eu tinha aceitado, e mal dava conta de conseguir atender a tudo e todos.

Eu sempre me deixava de lado, não só a mim, mas as coisas que eram importantes para mim e até pessoas, cada dia mais eu me deixava para lá.

Cada “sim” que dizia para alguém era um “não” que eu falava para mim mesma. O custo dessa “aceitação” de ser legal estava me custando um preço muito alto. Eu não tinha paz nenhuma, não tinha tempo para mim e nem para quem verdadeiramente me amava, e eu nem via.

Na verdade, naquele tempo, eu não sabia quem eu era, o que eu gostava, o que eu pensava, porque como eu pensaria diferente podendo gerar um “não” para alguém? Não é verdade? Melhor eu me anular para ficar todo mundo feliz.

Os vampiros sanguessugas tóxicos estavam felizes, mas eu não estava! Eu estava em paz com as pessoas, eu era muito legal. Fazia tudo para todo mundo, uhuuu! E quanto mais legal, mais sim, quanto mais “sins”, mais pessoas sanguessugas apareciam para se aproveitar da minha autoestima fragilizada e dessa distorção de autoaceitação.

Vampiros Emocionais: A Dura Descoberta da Falsa Afeição e a Solidão por Trás do “Sim” Constante

Eu vivia rodeada de vampiros que sugavam até minha alma. Muita gente dizia que me amava, que eu era incrível e todas aquelas coisas incríveis que os vampiros de energia tóxicos falam quando têm uma marionete que faz tudo exatamente como eles querem, que no caso era eu.

Mas dentro de mim estava uma guerra imensa de autoanulação, eu estava triste, cansada e solitária, mesmo rodeada de muitas pessoas. Afinal, eu era muito legal. A garota do “Vamo?” Vamo. Me leva? Levo. Me ajuda? Ajudo. Paga para mim? Pago. Você pode? Posso. Você vai? Vou. Eles me amavam…

Mas na verdade, eles nunca me amaram. Em tempo nenhum… Eles amavam a utilidade que eu tinha para eles. Cada “sim” que eu dizia encontrava falsidades, traições, ingratidão, desvalorização, relações tóxicas. Cada dia mais descobria algo que me machucava profundamente ao ver que essas pessoas não me amavam.

Elas se aproveitavam do que queriam usufruir de mim, sem escrúpulos, dó e nem piedade. Afinal, minha acessibilidade e facilidade que eu proporcionava me tornaram alguém sem nenhum valor para essas pessoas.

A Saúde Abalada: O Preço da “Boa” Ação e a Desilusão com Relações Vazias

E sabe como eu descobri isso? Primeiro, quando comecei a reparar que eu vivia doente, uma internação atrás da outra, parava sempre no hospital para tomar um soro, um calmante, crise de ansiedade. E não foi só a saúde física, mas um abalo emocional muito grande.

Dores por saber que, mesmo falando SIM, ajudando pessoas, ficava sabendo que essas mesmas pessoas que eu tinha ajudado tinham falado mal de mim, tinham me traído de alguma forma, e aquilo machucava a alma.

Comecei a perceber que algo me incomodava, que as coisas estavam me deixando triste, e comecei a admitir para mim mesma que já não estava mais legal ser legal com tanta gente filha da puta.

Desmistificando a “Boazinha”: A Distinção Entre Ser Legal e Ser Besta

Uma vez, minha psicóloga, Claudia Mariola, me disse uma coisa que achei muito interessante e queria compartilhar com vocês. Ela disse que nossa imagem vem se distorcendo com o passar do tempo, a imagem de bondade de uma pessoa “legal”.

Eu entendi que a gente confunde ser legal com ser besta, ser chata não significa que você:

  • Ter sua opinião e fazer o que realmente se sente bem, não aceitando que você tem que pensar igual ao outro ou fazer o que o outro pensa.

Você não estará sendo chata. Ao contrário, as pessoas que realmente te amam, que realmente querem o seu bem, vão ficar felizes de você estar fazendo o que te faz bem e não o que só faz bem só pra elas.

E aquele meu plano genial lá do tempo da infância, que tinha sido um mecanismo de defesa, quando ele foi desmontado há pouco tempo, comecei a matar os vampiros de fome; eles já não tinham mais o que sugar.

Dei um basta! A Coragem de Questionar e Romper Relações Tóxicas

Com o tempo, comecei a perceber relacionamentos tóxicos e simplesmente me retirei. Comecei a questionar amizades que nunca foram cúmplices e parceiras, mas sempre de uma via só. E comecei a ouvir que eu fiquei metida, que eu fiquei ruim, que eu já não era mais a mesma pessoa, que eu não andava mais com pessoas “pobres”.

Essas conversinhas que a gente sempre escuta quando a gente decide começar a refletir se a gente quer ir naquele lugar, se a gente quer falar sobre aquilo, se a gente gosta de comer o que eles estão comendo, e quando você emite a sua opinião, traz um lindo e sonoro não, as pessoas que queriam te sugar eternamente ficam extremamente irritadas.

Porque o alimento incessante de drenagem já era! O tempo acabou! A frase mais clássica de um vampiro tóxico narcisista é:

“A gente não imaginava que você era assim.” Kkkk, essa é clássica, senhoras e senhores, e que bom que vocês não imaginavam que eu era assim, afinal, nem eu imaginava que eu era assim.

Nada ensina tanto quanto o tempo!

Conclusão

Assim, eu tive tempo e uma chance de mudar, que eu não era uma pessoa que aprendeu a se conhecer melhor, uma pessoa que resolveu se abraçar e se cuidar, e fazer do autoamor uma massagem para a alma e uma cura para tantas feridas que vocês, que diziam que me conheciam, cooperaram.

Ai que nojo! Ai que libertação! Graças a Deus! Ah, eu me perdoei e eu perdoei cada um de vocês.

Porém, uma coisa certa: essa nova versão tende a evoluir e melhorar todos os dias. Afinal, tenho procurado a minha melhor versão todos os dias. Tento me conhecer melhor, tipo as cores que eu gosto, a comida preferida, que música eu gosto de ouvir, aonde eu gosto de estar, que pessoas eu quero do meu lado, quais os meus planos, sonhos, projetos.

Tenho me ocupado tanto tentando crescer, evoluir, me conhecer, me encontrar que não dá tempo mais pra dizer não pra mim e sim pra quem nunca me deu valor. A única coisa que eu mudei foi isso: comecei a dizer não pra muita coisa e muita gente que nunca mereceu, mas comecei a dizer sim pra mim mesma.

Mas, pra encerrar esse vômito da minha alma, quero compartilhar a minha última descoberta sobre esse assunto:

Descobri que eu continuo sim sendo legal.

A única coisa que mudou é que eu deixei de ser besta!

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